sábado, 22 de agosto de 2009

Governo é vítima de terrorismo virtual

BRASÍLIA - Sob constante ataque de criminosos, as cerca de 320 redes de computadores do governo federal – entre elas sistemas do porte do Banco do Brasil e o Serviço de Processamento (Serpro), que cuida do coração da economia e do mercado financeiro – geraram uma nova demanda para os órgãos segurança e de inteligência. Um inquérito que corre em segredo na Polícia Federal, em Brasília, investiga a atuação de uma quadrilha internacional que penetrou no servidor de uma estatal, destruiu os controles, trocou a senha e, depois de paralisar todas as atividades da empresa, exigiu um resgate de US$ 350 mil.

A ocorrência veio à tona durante depoimento do diretor de Segurança da Informação e Comunicação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Raphael Mandarino Júnior, num debate sobre terrorismo, na Comissão de Segurança da Câmara. Versão moderna do delito de “extorsão mediante sequestro”, a invasão foi praticada, segundo ele, por uma quadrilha estabelecida em um país do Leste Europeu que exigia um depósito no valor do pedido de resgate para devolver a senha modificada. Por se tratar de inquérito sob sigilo, a Polícia Federal não fala sobre o assunto, mas confirma que as investigações estão em andamento.

Orientado pelos órgãos de inteligência, apesar dos prejuízos causados à estatal – ligada ao mercado financeiro – o órgão não pagou o resgate, mas a audácia exigiu uma operação de emergência para escapar da armadilha.

– Com a ajuda da Cepesc (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para Segurança das Comunicações), da Abin e de alguns especialistas, conseguimos quebrar a senha colocada e recuperamos o servidor – explicou Mandarino Júnior.

Embora a Abin tenha desenvolvido um dos centros de proteção contra crimes cibernéticos mais modernos do mundo, a ocorrência revelou o quanto é vulnerável a rede oficial de computadores.

Os registros da própria Abin mostram que no ano passado apenas uma das grandes redes do governo – do porte do Banco Central – sofreu 3,8 milhões ataques, o que representa, na média, 2 mil tentativas de invasão por hora. Multiplicado por 320 sistemas em 37 ministérios, as ações contra a rede do governo obrigam os órgãos de inteligência a aperfeiçoar permanentemente a vigilância e controle. As estatísticas apontam que 70% dos ataques se dirigem ao sistema bancário, mas o que mais preocupa são as tentativas de invasão contra os sistemas de segurança do próprio governo: 10% das ocorrências são contra o Infoseg, a rede de computadores que a Polícia Federal e os demais órgãos de repressão utilizam para combater o próprio crime. Os demais registros apontam que 15% são invasões em busca de informações pessoais e 5% invasões de outra natureza.

– São robôs que ficam o tempo todo, de forma aleatória, checando a vulnerabilidade do sistema. É como o ladrão que quer roubar o toca-fita de um carro e, não querendo arrombar a porta, percorre um estacionamento inteiro checando a maçaneta – explica o delegado Carlos Sobral, da Polícia Federal.

Segundo ele, mais preocupante são os hackers que invadem sistemas e se utilizam de outros computadores para praticar crimes ou direcionam o ataque em busca de informações confidenciais.

Com 68 milhões de usuários de computador, o Brasil atualmente abriga mais de 2% das redes zumbis (onde estão computadores de terceiros), usadas para dificultar as investigações.

O crescimento do crime no Brasil – foram 700 prisões nos últimos quatro anos – levou a Polícia Federal a criar a Coordenação de Repressão a Crimes Cibernéticos, que instalará, até janeiro do ano que vem, unidades em todos os estados do país. Cerca de 200 policiais estão sendo treinados para atuar no setor.

Num aparente paradoxo, a alta incidência de ataques significa também que o Brasil está entre os mais avançados em tecnologia da informação. Os sistemas desenvolvolvidos na Abin renderam ao Brasil um espaço junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) para gerenciar programas de segurança e dar respostas às ações de terrorismo cibernético.

Mandarino Júnior diz que nos últimos quatro anos a Abin treinou e instalou centros de resposta aos ataques em 25 países da América Latina, alguns deles vizinhos. O Brasil não é alvo de ações terroristas, mas na era da globalização virtual e, portanto, sem fronteiras não está totalmente imune.

– Alguns de nossos servidores já abrigaram sites de captação e troca de informações sobre terrorismo – diz o diretor da Abin.

20:00 - 15/08/2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Vídeos: A Desconstrução de um Mito

*Publicado originalmente no site CeticismoAberto

“Pelé é um mito. Estaríamos afirmando que Pelé jamais existiu? Certamente que não”. Ubirajara Rodrigues explica logo no início do evento de lançamento do livro “A Desconstrução de um Mito”, em co-autoria com Carlos Reis, no último dia 31 de julho em São Paulo.

“Bem sabemos que um pequeníssimo percentual de ocorrências é que deve incentivar os meios acadêmicos. Quando pretendemos desconstruir um mito, estamos nos referindo a uma reflexão sobre o próprio conhecimento da ufologia. Mostrar aquilo que toda área do conhecimento precisa ter: os vieses da pesquisa, equívocos que talvez todos nós tenhamos cometido”, continuou Rodrigues.

Assista ao vídeo completo da palestra: http://www.youtube.com/view_play_list?p=888240FB67B91A91

O evento, com a participação dos principais ufólogos do país, pode ser conferido na íntegra acima, desde a introdução realizada por Luciano Stancka e Silva, os comentários dos autores, a imperdível palestra de Carlos Reis e a sessão de perguntas e respostas ao final. São nove vídeos com pouco mais de uma hora de duração ao total, disponíveis também em alta definição.

Este que escreve aqui esteve presente – e foi o cinegrafista amador responsável pela gravação. Entre os outros presentes, incluindo os autores e palestrantes, estava praticamente todo o núcleo ativo e sério da segunda e terceira geração de ufólogos no país, abrangendo um período indo desde o início da década de 1970.

A Desconstrução de um Mito” é sem dúvida um marco na ufologia brasileira. Já há praticamente uma década o próprio Ubirajara Rodrigues deixava claro que ao final, não lhe restaram provas conclusivas da tese extraterrestre que pudessem passar pelo rigor da avaliação científica nem mesmo no caso que lançou ao imaginário popular, aquele de Varginha.

Nesta constatação, Rodrigues não esteve sozinho e aqui em CeticismoAberto já citamos outros ufólogos como Claudeir Covo, Rogério Chola e o próprio co-autor, Carlos Reis, curiosamente citado e elogiado na afirmação de que “não se pode afirmar em sã consciência que [a ufologia] seja extraterrestre, são apenas hipóteses” também pelo editor da revista UFO, há apenas cinco anos atrás.

Cinco anos depois, a publicação que diz representar a ufologia brasileira continua vendendo a afirmação de que a ufologia seja extraterrestre, e o mesmo Reis, tão elogiado, é agora duramente atacado, bem como Rodrigues, que chegou a ser por anos co-editor do veículo.

Advogando uma consciência sã, os próprios ufólogos desconstruíram sua área para buscar construir uma nova ufologia brasileira.

domingo, 2 de agosto de 2009

Ufologia Analfabeta?

Publicado originalmente no site CeticismoAberto de Kentaro Mori

“Eis, portanto, a conclusão: um amontoado de interrogações. Que só fariam perderem-se inúmeras folhas de papel. Desgaste e gasto desnecessários. Nada se pode concluir, como nunca se pôde, de qualquer caso ufológico. Nem que seja realmente ufológico”. – Ubirajara Franco Rodrigues

São declarações bombásticas, talvez estarrecedoras aos entusiastas da ufologia, vindas como vieram de um dos mais destacados ufólogos no país e que se tornou figura maior como descobridor do conhecido “caso Varginha” já há mais de dez anos.

E são declarações contidas ao final de seu livro a respeito do caso, publicado no ano de 2001 pela “Biblioteca UFO”, editado por Ademar Gevaerd, editor da revista de mesmo nome. Há quase dez anos. No sítio online da publicação, ele ainda é promovido como “o livro ufológico mais importante dos últimos tempos”.

O leitor e leitora casuais talvez não entendam bem por que estou ressaltando estas informações, mas caso sejam entusiastas da ufologia, espero que já tenham compreendido por que são relevantes.

Nas edições de maio e junho deste ano de 2009 a mesma revista UFO publicou uma entrevista em duas partes com o mesmo Ubirajara Rodrigues, apresentada como “uma grande surpresa para a ufologia brasileira” já no editorial, escrito pelo mesmo Gevaerd. “Virando a mesa da Ufologia Brasileira” é intitulada a entrevista, que é introduzida por nada menos que três páginas em que Gevaerd busca enquadrar em seus termos o que o próprio Rodrigues expressará em sua entrevista.

Em resposta à “surpreendente entrevista”, que “causou perplexidade nos leitores e em toda a Comunidade Ufológica Brasileira”, houve reações “em geral, bastante críticas à nova postura do entrevistado” (grifos introduzidos). Como o editorial da segunda parte anuncia, “serão publicadas em nossas próximas edições”.

Pois bem. Apontando o óbvio, tanto interessados casuais na ufologia quanto entusiastas devem estar se questionando como as posições de Rodrigues poderiam ser uma “grande surpresa” se estavam expressas claramente há quase dez anos, em livro “mais importante dos últimos tempos”, publicado pela mesma empresa que edita a revista, editado exatamente pelo mesmo editor que é o entrevistador.

Não posso responder a tal sem incorrer em caminhos muito delicados, mas posso indicar pelo menos duas explicações possíveis de pronto. A primeira é a de que “toda a Comunidade Ufológica Brasileira” é simplesmente analfabeta, incapaz de ler um texto, que se dirá um livro, e assimilar seu conteúdo exceto com muita dificuldade.

Uma segunda explicação alternativa é a de que a grande “surpresa”, a total “perplexidade”, sejam um embuste, uma falsa reação a uma postura que Rodrigues manifesta nada secretamente já há quase dez anos mas que só neste momento calhou de ser apresentada como uma “virada de mesa”. É, todavia, apenas uma explicação possível.

Caberiam muitos comentários sobre o mais novo imbróglio a agitar a “comunidade ufológica brasileira”, contudo desde que o auto-intitulado representante da mesma fugiu do compromisso público assumido de provar o que vende, buscamos não dar muita atenção a tais estripulias, exceto em casos de extrema irresponsabilidade.

Vale mencionar no entanto, que este que escreve aqui troca cordialmente idéias e informações com vários ufólogos, incluindo Ubirajara Rodrigues, há um bom tempo. Não se pode contestar o que não se conhece. Posso dizer que inúmeros ufólogos, dos mais renomados pelos entusiastas, não só tinham plena consciência das posturas de Rodrigues que sim mudaram, anos atrás, como não poucos partilham dessas novas idéias.

E como demonstração de tal, Rodrigues, em co-autoria com Carlos Reis e a participação de inúmeros outros ufólogos, lança no final deste mês o livro “A Desconstrução de um Mito” (2009, LivroPronto), uma crítica contundente aos rumos atuais da ufologia nacional e uma tentativa de renovar o cenário, introduzindo finalmente ao país idéias e abordagens mais sofisticadas exploradas no exterior há décadas.

Caso o leitor tenha se perguntado parágrafos acima por que poderia ter vindo a calhar justo neste momento apresentar as conhecidas posições de Rodrigues como grandes surpresas, bem, talvez eu não precise fazer nenhuma sugestão a respeito.

Considerando a possibilidade de que “toda a Comunidade Ufológica Brasileira” seja analfabeta, a obra pode não impactá-la, mas nós em CeticismoAberto sempre apostamos na sua inteligência. Nosso sítio, cético e repleto de letras, é o mais visitado sobre ufologia e paranormal em bom português, com o dobro e mesmo o triplo de visitação do sítio online da revista de circulação nacional que mencionamos nesta nota.

Talvez seja puro otimismo, mas apostamos que no fim deste mês, ainda que simbolicamente, uma nova ufologia, encabeçada por ufólogos veteranos mas de idéias renovadas – já há vários anos – surja para que o debate se enriqueça e não tenhamos que falar de falsos profetas e charlatães sempre que discutimos o assunto no Brasil.

Se há uma ufologia analfabeta, há outra que não o é.