O eterno embate entre as correntes de pensamento que regem a divina experiência humana divide personalidades e talentos em lados opostos, num grande desperdício para o futuro da humanidade.
Quando os ventos da história mudaram de rumo e deixaram para trás a estrutura feudal típica da Idade Média, o então emergente capitalismo mercantil exigiu posturas e atitudes que pudessem proporcionar sua completa instauração, sua demarcação estratégica e seu expansionismo ilimitado. Muito do “poder” foi tirado e copiado das instituições religiosas, por estarem criando obstáculos ao livre transitar dos ideais burgueses. Dessa forma, este poder passou para as mãos dos monarcas absolutistas, vaidosos e interessados nos títulos de nobreza, de direito e de fato, mesmo que para isso tivessem que patrocinar e fomentar a ganância monetária dos mercantilistas.
Esta conduta serviu, e muito, para o desenvolvimento de toda a estrutura marítima da época, que sem dúvida era a principal forma de comunicação e de comercialização de mercadorias e capital, além de ser um poderoso meio de exibir a “força”. Essa nova concepção sócio-político-econômica, que viria a ser chamada de capitalismo, demandou avanços em todas as áreas, visando a maximização dos lucros, da conquista dos mercados e do poder. Enfim, tudo o que fosse necessário para favorecer o domínio da nova classe dirigente. Foi justamente nesse contexto que surgiram as ciências naturais. Elas buscavam respostas a muitas das inquietudes que, durante séculos, estiveram atreladas aos chamados “desígnios divinos”. Somente aos poucos é que os homens decidiram trazer às suas mãos essas respostas, em beneficio próprio, utilizando-se do místico e sobrenatural para conseguir a obediência dos ainda em estado de ignorância.
Através da observação do entorno e da constatação de um determinado problema, a busca pela sua solução, através de um processo empírico de experimentações sucessivas, acabou gerando a formulação de um conjunto de hipóteses para a explicação e solução de problemas. E havendo uma generalização nos resultados obtidos dos experimentos, o que era hipótese passava a ser lei ou teoria e o problema original se via inserido num ciclo completo de análise. Estava criado, assim, o método científico de análise e solução de problemas. Desde então, ele tem sido considerado a baliza mestra sob a qual todos devemos nos basear, principalmente quando nos deparamos com um determinado problema.
Graças a este novo conceito, e a sua massiva difusão e aplicação, passamos pelas transformações mais rápidas e radicais da história das civilizações, chegando aos dias atuais no ápice do desenvolvimento tecnológico. Contudo, isso aconteceu em detrimento de nossa evolução espiritual, pois o domínio da tecnologia passou a ser o aspecto social mais valorizado – uma terrível lembrança do domínio do ainda sobressalente capitalismo. No entanto, se por um lado as ciências naturais tiveram êxito na recontextualização da vida, do mundo e do universo material, por outro, fracassaram profundamente no que tange aos aspectos relativos eminentemente à essência humana. O homem é mais complexo do que o restante dos seres vivos, do que a natureza, e até mesmo do que os corpos celestes. Chegamos ao final do século XX em plena crise da modernidade, quando descobrimos que as ciências naturais, que desenvolvemos para obter respostas e soluções a todas as nossas fraquezas, não foram capazes de cumprir fielmente esses objetivos. Por quê? Porque para entendermos o homem precisamos avaliar de forma mais abrangente não somente ele, mas também outros tipos de variáveis.
As recentes ciências humanas (Antropologia, Sociologia, Psicologia, Semiologia, etc) nos mostram a realidade de aspectos ditos não científicos, imersos no universo das relações humanas. Mais do que aspectos quantitativos, o estudo do comportamento humano envolve matizes qualitativos. Assim sendo, a Ufologia ou Ovniologia (estudo do Fenômeno UFO) jamais será encarada como uma ciência oficial, uma vez que envolve nuances e aspectos que vão além dos limites físicos das ciências naturais. Como objeto de estudo, o Fenômeno UFO refere-se a muito mais do que uma simples observação de luzes estranhas ou de um disco voador, e resulta em um debate extremamente sério e complexo sobre o acobertamento de informações por parte dos governos. E muito mais importante do que o concernente ao que “vem de fora”, o extraterrestre, é o que representa para a humanidade como cultura: esse encontro de diferentes civilizações, que seguramente envolve fatores e aspectos que estão além do cogitar comum.
Nos outros encontros “domésticos” que pudemos presenciar – Colombo e os índios, Cortéz e Montezuma, Pizzaro e Atahual –, vimos a complexidade das relações estabelecidas, próprias das diversidades entre as culturas. Entre nós, humanos terrestres, mal logramos consensuar normas básicas de sobrevivência como espécie. Somos uma verdadeira sopa de culturas, cada uma representando um ingrediente, permeada por um fluido unificador, do qual quase nada sabemos. Considerando-se esse cenário, não seria mais racional e profícuo ponderarmos e procurarmos nos situar melhor no palco da vida, avaliando e estudando melhor nosso roteiro, corrigindo as falas e gestos? Dessa forma poderíamos desempenhar nosso papel de maneira adequada, e ainda entenderíamos um pouco mais desta obra-prima chamada vida e suas relações no universo. Está feito o convite! Depois não poderemos dizer que não fomos avisados, que não sabíamos as regras do jogo. Por acaso tentamos entender para que serve o jogo, afinal? Será que não perdemos muito tempo tentando entender as regras em vez de aproveitar as oportunidades que se apresentam, para depois tentar compreendê-las?
Nos debates psicosociológicos atuais, muitos deles encontrados em listas de discussão na internet, duas são as correntes principais por onde se canalizam as idéias sobre qual deve ser a postura de estudo e conhecimento do desenvolvimento humano, e tudo o que dele deriva: uma é a ciência e o outro é o Misticismo ou Esoterismo. Seus conceitos têm três limitações. Primeiramente, não representam todas as possibilidades de expressão e avaliação, e considerá-los assim é o mesmo que limitar as possibilidades de conhecimento. E duvidar ou rejeitar uma hipótese é limitar o estado de consciência. Em segundo lugar, são conceitos parciais, em transição e de significação variável, dependente da conotação e referência que se atribua a estes conceitos. Por fim, seus porta-vozes, isto é, seus defensores e propagadores, estão, em sua maioria, muito aquém de uma real formação acadêmica e pessoal em ditas correntes. Na maioria dos casos, o que é verbalizado não corresponde à conduta adotada por essas pessoas. Na Ufologia a situação não é diferente. Pelas verdades pessoais de alguns poucos, o grande fluxo do estudo, análise e debate dos enigmáticos discos voadores foi dividido em duas frentes antagônicas e adversárias: a Científica e a Esotérica ou Mística.
Os defensores da primeira acusam os da segunda de “pouco científicos, incoerentes, isentos de provas, delirantes, fantasiosos, farsantes e ingênuos”. Os defensores da segunda acusam os primeiros de “ególatras, limitados, sem imaginação e flexibilidade, demasiado cartesianos e racionais, num mundo há muito tempo quântico!” Lamentável! Coitados daqueles que, no íntimo, se julgam detentores da verdade. Pobres são os que assumem a atitude mundialmente conhecida dos três macacos: não ouço, não falo e não vejo. Coitados daqueles que se consideram cavaleiros missionários numa luta do bem, pela verdade, contra o mal, a mentira. Coitada da grande maioria das pessoas que, passivamente, como uma rede num jogo de pingue-pongue, vê a bola passar de lado a lado, regozijando-se e vibrando quando, num erro de um dos competidores, a bola resvala ou toca na rede. Quanta ignorância e egocentrismo! Até quando teremos que suportar esse joguinho sem graça? Sim, porque os competidores gritam e rugem como se fossem do naipe ou da categoria de jogadores olímpicos, quando no fundo não passam de amadores que mal resistiriam a um saque de muito efeito. Afinal, para os que defendem uma Ufologia Científica deveríamos perguntar: quem é realmente cientista na Ovniologia ou Ufologia? Quem sabe o que a palavra e o conceito de Ciência realmente significam? Por acaso existe alguém por aí que seja formado em Ciência Ovniológica ou que seja Ph.D. em Ovniologia Científica? Mais mentiras e desperdício de tempo mental e humano.
Por outro lado, os que defendem a Ufologia Mística descobriram quem realmente já penetrou no âmago do conhecimento? Quem sabe discernir entre sonho, viagem astral, interferência dimensional, desdobramento, projeção mental, projeção astral, bilocação, visão remota e passo quântico? Se tanta gente é tão íntima assim de mestres ascencionados, por que há tanta briga e discussão? Não têm certeza do que viveram e sentiram? Não seria melhor pedir um tempo, unir esforços, admitir que muito pouco ou quase nada sabemos, preparar melhor as raquetes, planejar com cautela e, aí sim, sair e jogar contra o nosso grande inimigo comum, que foi, e será sempre o mesmo: nossa ignorância?
Como última reflexão, lembro que o melhor exercício não é a subida ao pódio para ganhar o prêmio. Mas, sem dúvida, apenas ficar de pé para aplaudir aqueles que conseguem quebrar os seus próprios limites e compreender o quanto foi valiosa a sua própria experiência de conquistar o melhor índice. Para o atleta, a conquista jamais será o que os outros pensam de sua forma ou modo de ganhar o prêmio, mas sim o que ele próprio precisou modificar em si para estar ali naquele momento ímpar de satisfação e transformação. O trabalho de compreensão de um fenômeno jamais deverá ser de imposição ou homéricas discussões de temas profundos e até quânticos, caso ainda possamos falar deste ultrapassado meio energético ainda estudado em algumas partes do mundo. Seria mais simples se todos apenas pudessem compreender sua própria evolução desde quando iniciaram alguma consciência desta, e que fossem atletas o suficiente para compreender que existem alguns limites e grandes recordes, e que não adianta valorizar uma corrida apenas para fazer parte da turma. É preciso preparar-se para a participação.
O importante é ter consciência de que os que estiverem participando da corrida serão os melhores a representar a oportunidade de ultrapassar os limites e impor novos recordes. Se, em seu grau de consciência, o atleta entender que não conseguirá, deve participar de outra prova, mas jamais ocupar a vaga de outro. O grande percurso será sempre de resistência e não teimosia. Em nosso universo a insistência inconseqüente qualifica uma falta de consciência de caminhos alternativos que facilitem uma melhor compreensão do momento e do futuro dos resultados. Albert Einstein, diante da banalização a que a tecnologia estava submetendo o ser humano, disse uma vez: “Fica evidente notar que nossa tecnologia superou nossa humanidade”. Pois é, mas ainda tenho a grande esperança de que, um dia, possamos superar a nossa tecnologia através do resgate de nossa humanidade!
Cada um de nós firma ter uma visão própria de si mesmo, mas será que ela é verdadeira? Será que as conclusões obtidas para estruturar essa visão estão sedimentadas em dados reais e consistentes? A resposta é não. Todos possuímos conhecimentos que são parciais, já que a informação e vivência obtidas são limitadas às oportunidades. Ninguém tem uma visão completa de tudo, por isso é que somos tão diferentes. Cada ser humano pensa que aquilo que possui é o supra-sumo, ou seja, a verdade clara, óbvia, total, possível e evidente, quando na realidade é somente um fragmento, uma fração de um todo maior.
É este aspecto que nos distancia não somente de um relacionamento mais profundo, mas também de uma compreensão cada vez maior de nós mesmos e do papel que representamos neste mundo e no universo. Hoje nada nos inspira confiança, motivo pelo qual cada vez mais mergulhamos dentro de nós mesmos à procura de um sentido para a vida e de uma compreensão maior das coisas, que nunca chega, ou que timidamente se perfila sem jamais ser avistada totalmente. O que conseguimos realmente é aumentar nosso egoísmo. A atomização da personalidade distante das outras camufla um desejo desesperado de sobrevivência, que tristemente nos separa cada vez mais da verdade razão de existirmos.
Para vir a compreender o que realmente somos, por que vivemos e o que o universo espera de nós, é necessário entender que a vida e o cosmos são diferentes do que estamos acostumados a ver. Tudo, lá fora, ocorre em função de regras e normas que desconhecemos, já que as ignoramos por estarmos condicionados e alienados dentro de um mundo onde tudo está convencionalizado e definido conforme interesses ideológicos e megalomaníacos, que poucos têm manipulado ao longo dos séculos. Hoje, até eles mesmos desconhecem o verdadeiro sentido das coisas, pois, condicionados por gerações, acabam escravos de si mesmos.
Para sair desta prisão mental, ideológica e espiritual, é necessário restabelecer a visão clara das coisas, principalmente a respeito de nós mesmos. Mas isto só será possível substituindo os condicionamentos que adquirimos através de uma osmose induzida por uma aquisição através da compreensão. Quando descobrirmos a fragilidade do sistema e iniciarmos uma substituição de valores por outros que reflitam sabedoria, amor e consideração, assim como senso comum organizado e racional, estaremos a caminho de nossa autodescoberta. O homem somente se tornará um cidadão cósmico quando souber viver harmonicamente dentro dele, compreendendo como a vida se desenvolve e olhando para o seu próprio interior, sem preconceitos nem parcialismos. Nesse momento, poderá sentir a extensão do seu poder criativo e perceber a capacidade construtiva do seu intelecto. Estará unido e irmanado a seus semelhantes no objetivo de crescer cada vez mais.
Em suma, o ser humano somente transcenderá se estiver disposto a um confronto, a um questionamento sincero, honesto e puro, em que a imagem de si mesmo, do mundo e do sistema, sua crenças e objetivos de vida, estejam passíveis de questionamento e análise. É na reestruturação de si mesmo, interna, profunda e radical, que encontrará o caminho que o levará ao infinito. Como disse alguém há muito tempo: “Conheça a verdade e ela vos libertará!”, é isso! Quando uma civilização caminha em busca da verdade sincera, baseada em princípios universais, está a caminho de sua própria liberdade de ser e existir em harmonia.
Um comentário:
Fiquei realmente emocionado com a leitura.
Parabéns!
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