Amigos, segue uma entrevista que fiz faz algum tempo para uma edição especial da revista Superinteressante sobre o tema "ufologia" e "vida extraterrestre". Espero que gostem:
1) Por que, dentro dos meios acadêmico e científico, a ufologia não é considerada ciência? Por preconceito? Por falta de metodologia científica da ufologia? Como provocação sadia, eu estenderia a pergunta: afinal, a ufologia é considerada ciência por alguém?
Rchola: Esta é uma boa questão que necessita ser analisada em profundidade. Primeiro temos de relembrar o conceito do que é ciência. Desde o surgimento da espécie humana, esta se questiona, de alguma forma, sobre o que acontece ao seu redor, sempre buscando prever os acontecimentos para poder utilizá-los a seu favor. Com a evolução da espécie, o ser-humano passou a questionar o porque da ocorrência destes acontecimentos, sempre procurando uma explicação e assim criando inúmeras teorias sem critério algum. Foi desta necessidade que surgiram as metodologias para a “produção” de teorias, sendo que o inglês Francis Bacon criou as primeiras “regras” baseadas na “experimentação” que funcionou muito bem até fins do século XIX. Depois foi o austríaco Karl Popper que introduziu o método da “razão” onde ficou estabelecido que a “experimentação” não deveria servir para elaborar hipóteses e sim para refutá-las. Para fazer uso destes métodos, a ciência utiliza evidências ou provas materiais para construir hipóteses de trabalho. O que ocorre é que existe um ponto frágil notável dentro do conjunto de evidências ou provas apresentadas pela ufologia, pois parece não existir nenhuma forma de realizar um experimento reproduzível que nos forneça informações confiáveis sobre os OVNI’s. Isto ocorre porque este fenômeno estando alem do controle humano, parece muito mais evasivo do que fenômenos meteorológicos que podem ser observados de modo sistemático sob condições apropriadas. Sendo assim, a ufologia, um estudo (logia) criado pelos militares para estudar a manifestação de objetos (aparentemente materiais) voadores (que conseguem se deslocar no espaço aéreo) e não identificados (que permanecem sem identificação positiva convencional), não pode ser considerada como uma ciência acadêmica. Entretanto, todos os relatos, indícios e evidências obtidas até o momento, de fontes consideradas confiáveis, demonstram que o Fenômeno OVNI pode ser estudado objetiva e racionalmente com a atual metodologia e tecnologia científica, contudo, sem pré-julgar a sua natureza. O problema é que existe um círculo vicioso tanto na ciência acadêmica como dentro da ufologia: primeiro que o cientista, quando se depara com este fenômeno, pode sofrer do chamado “mito da neutralidade científica” , como bem escreveu Hilton Japiassu, tendendo a seguir o “modismo” científico do momento e justamente por causa de um mal-entendido criado no início da chamada “era moderna da ufologia” (ufologia civil), aonde a mídia em geral e a maioria dos ufologistas, acredita que o termo OVNI seja sinônimo de atividades de “inteligências extraterrestres” e como não existe prova ou evidências concretas disto, muitos cientistas se afastam tanto do estudo como das pessoas que o fazem. A equação para entender isto é muito simples, pois sendo OVNI (erroneamente) sinônimo de “inteligência extraterrestre” e esta não tendo sido de alguma forma comprovada ainda a conclusão (absurda) é de que OVNI´s não existem! Por outro lado, os ufologistas jamais fizeram realmente ciência em ufologia. Existem cientistas que estudam ufologia, porem, existem poucos ufologistas que possuem conhecimento científico suficiente para empreender tal tarefa.
2) O exercício da ufologia não exige formação universitária, seja graduação ou pós-graduação. No ambiente científico, ninguém pode dizer que é físico se não estudou física, ninguém pode dizer que é químico se não estudou química. Como distinguir, dentro da ufologia, o ufólogo sério do aproveitador, o pesquisador do falso profeta?
Rchola: Esta é outra questão importante. Existem verdadeiros cientistas que fazem e estudam ufologia, como Jacques Vallée e Claude Poher da França, Bruce Maccabee, Joseph Allen Hynek (im), Peter Sturrock, Richard Haines e James McDonald dos EUA, Alberto Francisco do Carmo, Ricardo Varella, Cláudio Brasil, Ubirajara Rodrigues e Carlos Alberto Machado do Brasil e pessoas como Claudeir Covo, Carlos Alberto Reis e outros que, embora não sendo cientistas, possuem a capacidade técnico-científica para empreender tal tarefa e que contribuem e contribuíram muito para o estudo. Infelizmente nunca um trabalho que envolvesse todo o universo científico foi realizado em prol da ufologia. Sempre foram trabalhos isolados e sem repercussão. Pessoas com conhecimento inter e multi-disciplinar são necessárias para estudar o fenômeno. Como você separa um bom médico de um mal médico? Quantas pessoas foram submetidas a verdadeiros assassinos com diplomas, phd´s e boas referências, não é mesmo? Existe um “código moral” dentro da ufologia que determina quem é um bom “profissional” do estudo é quem é um charlatão aproveitador da crença alheia. No Brasil temos um clássico exemplo de uma pessoa que se passa por ufologista e não possui conhecimento algum nem sobre ufologia e nem sobre ciência e explora milhares de pessoas em busca de salvação através de extraterrestres e vida alternativa em comunidades rurais. O ufologista sério geralmente é aquele que não fala em qualquer mídia e não costuma aparecer popularmente. Trabalha diretamente com os militares e grupos científicos dentro de universidades. Por exemplo, existe uma aérea acadêmica, que define muito bem a natureza de meu trabalho dentro da ufologia, que se trata de uma especulação científica baseada em evidências reais e em conhecimento científico avançado. Esta área reúne o conhecimento de outras e é denominada de Exosociobiologia ou Astrosiciobiologia.
3) Não parece que a ufologia atraiu preconceitos por causa dos ufólogos que tomam o assunto como uma crença pessoal, religiosa ou filosófica? Não faltou aos cientistas assumirem a responsabilidade pela ufologia para dar a credibilidade que falta às pesquisas?
Rchola: Exatamente. As duas colocações são verdadeiras. A ufologia extrapolou seus limites ao se enveredar por caminhos místicos e/ou transcendentais passando a estudar “vida extraterrestre”; “canalizações de mensagens extraterrestres”; “contatos telepáticos”; “entidades de outras dimensões”, etc, o que a rigor não compete à mesma estudar. O fenômeno OVNI já é complexo e difícil de ser estudado, imagine então assuntos que sequer conseguimos definir corretamente? Por outro lado, existe realmente o “abandono” científico e podemos ver isto a nossa volta, todos os dias. Quantos programas científicos existem hoje na TV aberta do Brasil? Quantas revistas especializadas em ciência existem? Qual o incentivo do governo para melhorar a condição do ensino científico nas escolas que realmente é uma piada? O mais irônico é que isto já havia sido previsto pelo Astrofísico e Ufologista Dr. Jacques F. Vallée, em 1978, durante a 33ª Assembléia da ONU ocorrida em 1978 para discussão do Fenômeno OVNI e como o mesmo deveria ser tratado em nível mundial. Neste encontro, Dr. Vallée destacou que nós iríamos “pagar” um alto preço pelas atitudes negativas e omissas que as instituições científicas destinavam ao estudo do fenômeno OVNI. Ampliando o que coloquei anteriormente, uma vez que não exista prova ou evidência concreta de que o fenômeno OVNI seja de fato extraterrestre, muitos cientistas se afastaram dele, pois não querem ser vistos como parte de um acobertamento (ou ocultamento) de informações o qeu, aliás, é muito bem vindo pelos governos de vários países, principalmente os EUA, que realizam seus experimentos militares e psicológicos (psychological warfare) de forma anônima e tranqüila.
4) Pelo que entendo do tema, a ufologia é o estudo dos fenômenos UFO, e não o estudo de vidas extraterrestres. Por exemplo, o ufólogo recebe uma fotografia ou um vídeo de um UFO. Ele tenta descobrir se aquilo não é uma montagem ou uma farsa. Se não for montagem ou farsa, ele tenta encontrar algum fenômeno natural ou tecnologia terrestre que explique aquela imagem. Se nada conhecido explicar aquela imagem (um avião, um satélite artificial, um cometa, um meteoro em desintegração etc.), temos certamente um UFO (literalmente, um objeto voador não-identificado). Mas termos um UFO não significa que temos uma nave espacial extraterrestre. Os ufólogos não tendem a considerar artefatos alienígenas todos os UFOS? (Não estou dizendo que é o seu caso, apenas tirando algumas conclusões a respeito de tudo o que li até o momento.)
Rchola: Exatamente! Este é o principal problema da ufologia: a grande maioria dos próprios ufólogos! Eles são os responsáveis por perpetuar os paradigmas de que OVNI é o mesmo que “nave extraterrestre”. É neste ponto que destaco a necessidade do conhecimento multi-disciplinar. Ao estudar uma foto, filme ou relato, deve-se estabelecer uma relação de hipóteses de trabalho possíveis, prováveis e outra relação com hipóteses especulativas baseadas em ciência. Se nenhuma destas hipóteses for suficiente para explicar ou reproduzir o fenômeno, então o objeto continua sendo um OVNI. Claro que a ETH (Hipótese Extraterrestre) deve ser a última a ser considerada e caso o OVNI preencha certos requisitos, poderá ser enquadrado como um artefato de origem desconhecida da tecnologia humana e natureza do Planeta Terra. Ir alem disto é especular sem argumentos convincentes. Outro ponto que gostaria de destacar é que o fenômeno OVNI é real, de natureza aparentemente material, mas que apresenta certas características que podem o confundir com algo transcendente e/ou de natureza espiritual.
5) Programas de pesquisa de comunicação extraterrestre (como o Seti) ainda não encontraram nenhum sinal que possa ser interpretado como alienígena. Alguns ufólogos afirmam que os extraterrestres já visitam a Terra. Então, por que o Seti não consegue detectá-los? Eles não se comunicam quando passam por aqui? As pesquisas do Seti estão no caminho errado? Se sim, qual seria o caminho certo para provar que os ETs já estão entre nós?
Rchola: Existe uma situação muito perturbadora nisto que você coloca. O fato de o SETI e atualmente o OSETI não terem encontrado nenhuma evidência positiva (apenas sinais de origem indeterminada que não se repetiram) não prova que não existam inteligências alienígenas fazendo algum tipo de incursão ao Planeta Terra. Poderíamos especular vários fatores para que o SETI não conseguisse êxito. Primeiro que a pesquisa do SETI é o mesmo que tentar separar uma gota de óleo dentro de um oceano. O Universo é algo imenso e difícil de conceber até para os cosmologistas. Existem premissas que o SETI segue que não necessariamente estão corretas. Está se partindo da premissa de que outras civilizações já estejam enviando sinais de rádio na mesma faixa que estamos escutando. Outro ponto é que, se existem inteligências alienígenas que supostamente estejam incursionando no Planeta Terra, necessariamente teriam de ser superiores tanto em tecnologia como em conhecimento em relação a nós. Assim, porque estas inteligências deveriam manter algum contato com civilizações mais “atrasadas” em relação a eles? Temos vários exemplos aqui na Terra do que aconteceu com culturas superiores que encontraram em algum momento da história, culturas inferiores e quem sobreviveu. Sendo assim, talvez tais inteligências prefiram o anonimato a causar ainda mais problemas do que já temos em nossa caótica humanidade. Lembre que até a pouco tempo o homem considerava que a Terra era plana e o centro do Sistema Solar e até hoje existem pessoas que acreditam que o homem não foi na Lua! Não creio que exista uma fórmula mágica para provar que existam alienígenas “visitando” a Terra. Talvez o que disse certa vez o físico Edward Condon (Condon Report) esteja certo: “O enigma da veracidade sobre os extraterrestres seria desvendado em poucos minutos se um disco voador aterrissasse no gramado de um hotel onde estivesse acontecendo uma convenção da Sociedade Americana de Física, e seus ocupantes desembarcassem e apresentassem um documento especial aos físicos presentes, revelando-lhes de onde vinham e a tecnologia do funcionamento de sua nave”. O problema é que o fenômeno OVNI é relacionado, em muitos depoimentos, a seres humanóides extraterrestres que parecem ter poderes “paranormais”. Se isto for mesmo verdade, então somente poderemos estudar estes seres (e o próprio fenômeno) até o ponto em que “eles” estiverem dispostos a se revelar para nós, Como sugere Condon, se “eles” existem, têm mostrado pouca ou nenhuma disposição para cooperar com os investigadores humanos, inclusive existindo a possibilidade de que “eles” estejam deliberadamente mantendo as pessoas ignorantes quanto às suas atividades e verdadeira natureza. E esta possibilidade não pode ser descartada, a priori, apenas porque não existem provas ou evidências suficientes.
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